São Paulo tem bons pontos de mergulho? - OceanHub
O mergulho em São Paulo

São Paulo tem bons pontos de mergulho?

Quando falamos de São Paulo, automaticamente, nossos pensamentos nos remetem a multidões, muito trânsito, arranha-céus e pessoas trabalhando o dia todo. Afinal de contas esta é a cidade que nunca para. Dificilmente alguém dirá que as primeiras imagens que lhe vieram à memória quando ouve falar da “Terra da Garoa” (que agora nem garoa tem mais) são paisagens naturais, sossego, vida selvagem e, muito menos, pontos maravilhosos de mergulho.

São Paulo tem mergulhos fantásticos e bem pertinho da cidade. Basta descer a serra! É admirável que tão próximo à maior concentração demográfica do país, tenhamos cenários propícios à atividade subaquática. Com abundância e diversidade de fauna e flora marinha capazes de deixar os biólogos surpreendentemente encantados.

Neste artigo comentarei sobre os dois mais visitados pontos de mergulho da região.

Queimada Grande

Queimada Grande, uma belíssima ilha localizada a 18 milhas da costa de Itanhaém e Peruibe, tem aproximadamente 430.000 m², topografia irregular e altitude máxima de 206 m. Não possui praias, apenas costões rochosos, e um farol automático, em um ponto alto da ilha, auxilia os navegantes.

São Paulo tem bons pontos de mergulho?

Seu nome tem origem no fato de, no passado, eventuais visitantes (sobretudo pescadores da região) atearem fogo na vegetação costeira para afugentar as serpentes e então poder desembarcar na ilha.

Serpentes? A ilha das Cobras, como também é conhecida Queimada Grande, possui aproximadamente 2.000 serpentes, segundo estudos mais recentes. Trata-se de uma espécie endêmica – a jararaca-ilhoa (Bothrops insularis) – cujo desenvolvimento se deu devido ao isolamento geográfico após a última glaciação no período Pleistoceno. Esta espécie, que atrai tanto os biólogos, por existir apenas nesta pequena ilha brasileira, desenvolveu hábitos alimentares específicos. Os jovens se alimentam de anfíbios e lagartos e os adultos de aves. Para tanto, a jararaca-ilhoa passou a subir em árvores, o que não é comum nas espécies do continente, e sua peçonha foi potencializada para garantir a morte da presa antes que se afastasse em voo.

Mas não se preocupe, nossas serpentes não nadam, e não existe desembarque na ilha. Portanto, a prática do mergulho é totalmente segura e encantadora. O encanto do passeio já se inicia no trajeto, pois avistagens de baleias de Bryde e golfinhos são muito comuns na região, principalmente os golfinhos – nossos anjos do mar – que são encontrados em grandes grupos corriqueiramente.

Queimada Grande agrada a todos os níveis de mergulhadores. Possui pontos bem rasos, com média de 10 a 12 metros, e outros que chegam a 45 metros de profundidade. Destaco alguns dos meus prediletos para prática de mergulho recreativo ao redor da ilha: Saco do Bananal, Saco do Farol, Escada e Saco da Lama.

São Paulo tem bons pontos de mergulho?

Pela quantidade de áreas protegidas de ventos, é fácil encontrar um ponto abrigado sem predominância de correntes. O que torna o mergulho muito tranquilo. A visibilidade média é de 15 metros com picos de 25 metros, principalmente no verão, e a temperatura da água oscila entre 23ºC e 27ºC ao longo do ano. Suas águas são repletas de budiões, salemas, frades, donzelas, moreías, tartarugas das espécies verde e de pente e, frequentemente, você irá se deparar com arraias pregos e chitas em suas imersões.

Além disso a ilha possui, para os amantes de naufrágios, duas embarcações que afundaram após colisão com os costões rochosos da ilha e que tornam as imersões ainda mais encantadoras:

Naufrágio Rio Negro: Era um navio mercante de madeira que foi construído em 1872 e que naufragou em 17 de julho de 1893. Seus destroços encontram-se, atualmente, entre as profundidades entre 5 a 20 metros.

Naufrágio Tocantins: Naufragado a 30 de agosto de 1933, a embarcação era um cargueiro de grande porte para a época com 115 metros de comprimento. Repousa entre 8 e 20 metros e, com certeza, é o ponto mais procurado para os mergulhos na ilha. Além das estruturas da embarcação, ainda bastante perceptíveis, o seu porte, as pequenas profundidades que se encontram e, acima de tudo, a vasta fauna marinha que reside no naufrágio, tornam o Tocantins ponto obrigatório para os mergulhadores que buscam imersões em suas águas. Além, de literalmente, ser um mergulho na história.

Laje de Santos

Outro atrativo imperdível das águas paulistas é, sem dúvida, a Laje de Santos.

São Paulo tem bons pontos de mergulho?

A Grande Pedra Mágica, como é chamada, se localiza a 22 milhas da costa e faz parte do Parque Marinho Estadual Laje de Santos que abrange cerca de 5 mil hectares. Sua visitação é aberta ao público obedecendo-se as regras do parque.

Com 550 m de comprimento, 180 m de largura e 33 m de altura, a Laje de Santos possui diversos pontos de mergulho para múltiplos interesses dos praticantes do esporte sub, tais como: Boca da Baleia, Piscinas, Parcel das Âncoras, Portinho e Paredão Sul e o Naufrágio Moreia – um pequeno rebocador afundado propositalmente para se transformar em Recife artificial.

Um dos pontos altos da Laje de Santos é o encontro com as Gigantes Arraias Mantas (Manta birostris ou Mobula birostris). O encontro é raro e sazonal, sendo mais fácil de ocorrer no inverno. Mas não crie uma alta expectativa de ver estes animais. Não são encontros certos como acontece, por exemplo, em Revillagigedo. Mas é maior oportunidade de avistagem no Brasil e… vai que você é um sortudo, não é mesmo?

Tive um caso bem interessante que ocorreu com um garotinho de 11 anos de nome Fernando. Eu acabara de ministrar seu Curso Open Water Diver PADI e lá foi ele, com seu pai, realizar o seu primeiro mergulho turístico em águas abertas da vida. Ao entrar na água teve a felicidade de encontrar com uma Manta. Em sua homenagem o animal foi batizado de “Fefê”. Ao contrário dessa linda história, temos mergulhadores frequentes da Laje que nunca viram o animal.

Sorte é sorte!!!

Um encontro praticamente certo na Laje de Santos é com as tartarugas marinhas. Assim como na Queimada Grande, esses dóceis e simpáticos seres são habitualmente avistados nos mergulhos. O Projeto “Tartarugas Marinhas das Ilhas” estuda as tartarugas marinhas de Queimada Grande, Laje de Santos e Arquipélago de Alcatrazes. É bastante interessante e você pode conhecer um pouco mais sobre o projeto e as tartarugas no Instagram (@tartarugasmarinhasdasilhas).

Próximo à Laje – apenas 1,5 milhas de distância – você encontrará uma formação rochosa denominada Calhaus. Particularmente prefiro os mergulhos por lá do que propriamente na Laje de Santos. Destaca-se um túnel em forma de “U” e que possui um arco central. A profundidade máxima do túnel é 18m e, na formação que eu chamo de Catedral, existe uma abertura no teto que permite a entrada da luz do sol, quando à pino, e que faz um efeito maravilho. Excelente para a foto sub.

Tanto na Laje de Santos quanto em Calhaus, o que mais me encanta é fazer uma imersão única dando a volta completa nas formações rochosas. A aventura dura em média de 2h30 à 3h, sendo possível mergulhar em pontos pouquíssimos visitados do mar de fora. Isto permite, inclusive, encontros com peixes pelágicos. A quantidade de fauna marinha avistada também é absurdamente maior neste tipo de imersão, pois os pontos mais comuns ficam repleto de mergulhadores, o que acaba afugentando a vida marinha. A exemplo do Portinho, onde as embarcações ficam amarradas em poitas pré-instaladas e é ponto de partida para quase todos os mergulhadores que visitam o local.

Mas estas imersões dando a volta nos rochedos de Calhaus e Laje de Santos, por conta do longo tempo de duração, são exclusivas para aqueles que utilizam da configuração de mergulho utilizando-se de duplas de cilindros, sidemount ou rebreather. Se esta modalidade de mergulho lhe atrai, informe-se sobre esse tipo de operação, bem como quando e como elas são organizadas. Será um prazer tirar suas dúvidas.

E se ainda não visitou nenhum desses locais, encontre a melhor data para sua expedição e prepare seus equipamentos de mergulho e seu coração, pois você irá se emocionar.

Agora é só curtir e se preparar para conhecer uma São Paulo muito diferente do que está acostumado!

Muita água azul para todos.

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Alberto Maia

Quem é o autor deste artigo?

Joe Botero IDC STAFF PADI e TEC INSTRUCTOR por 5 agências internacionais. Formado em Ciências da Computação e Pós Graduado em Administração de Empresas. Fundador e Diretor de Cursos do Centro de Mergulho Amigos do Joe, de São Paulo. Possui larga experiência em educação e treinamento subaquático com mais de 14.000 alunos formados ao longo de 36 anos de instrução de mergulho em 74 modalidades distintas.

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