Fisiologia do mergulho: o cuidado com a equalização das orelhas - OceanHub
Fisiologia do mergulho: o cuidado com a equalização das orelhas

Fisiologia do mergulho: o cuidado com a equalização das orelhas

Uma experiência muito comum, sentida pela maioria das pessoas quando mergulham em uma piscina funda, é aquela sensação de forte pressão nas orelhas, limitando que ela desça um pouco mais. Antes de fazerem um curso de mergulho e entenderem o que acontece em nosso corpo, o conteúdo deste artigo poderá ajudar a entender e aplicar as técnicas da maneira correta, o que servirá para muitos mergulhadores iniciantes assimilarem melhor o assunto.

Como curiosidade, apesar de muitos ainda usarem o termo “ouvido”, o correto é chamar de “orelha”. A nova nomenclatura foi adotada oficialmente desde o ano de 2001 pela Sociedade Brasileira de Anatomia para designar o órgão da audição eu sua totalidade. Em Portugal ainda mantém-se a denominação de ouvido em lugar de orelha.

Fisiologia do mergulho: o cuidado com a equalização das orelhas
Fisiologia do mergulho: o cuidado com a equalização das orelhas

Com relação ao desconforto do início do artigo, ele se deve pelo aumento da profundidade, e consequente aumento da pressão do ambiente da água, forçando a membrana timpânica contra o espaço aéreo do outro lado, mas é muito simples de ser entendido e resolvido.

A orelha está conectada à garganta pela tuba auditiva, que tem a função de dreno e de ventilação. A abertura na garganta fica normalmente fechada. Músculos da garganta abrem-na quando a pessoa engole. Durante o mergulho, a tuba auditiva é usada para igualar a pressão da orelha média. Na descida, ela é usada para transferir o ar das vias aéreas para a orelha média. Na subida, quando retornamos para a superfície, e a pressão do ambiente diminui, o processo é inverso, ou seja, permite que o ar sai da orelha média.

Quando não ocorre a equalização, o aumento da pressão na membrana timpânica, que é o limite entre o ambiente interno e externo, pode causar inchaço, dor, ou até mesmo a sua ruptura. Se há a demora para compensação da pressão durante a descida, pode acontecer o fechamento da tuba auditiva, o que vai dificultar ou mesmo impedir a equalização. Alguns, de maneira incorreta, tentam superar este efeito executando a Manobra de Valsalva forte, mas a pressão aumentada na garganta, ajuda a fechar ainda mais a tuba auditiva.

Fisiologia do mergulho: o cuidado com a equalização das orelhas
Fisiologia do mergulho: o cuidado com a equalização das orelhas

A Manobra de Valsalva, é uma técnica usada para a equalização, que consiste expirar suavemente com a boca fechada, e simultaneamente pinçar as narinas, facilitando assim, a passagem do ar das vias aéreas para a tuba auditiva. Ela deve ser feita sempre suavemente, pois se realizada de maneira muito vigorosa, pode transferir uma força exagerada para a janela redonda (orelha interna) dilatando-a ou rompendo-a, o que pode provocar uma vertigem alternobárica, ou até mesmo uma doença descompressiva de orelha interna.

Uma curiosidade interessante, é que a técnica descrita pelo anatomista italiano Antonio Maria Valsalva (1666-1723), consistia em forçar a exalação contra a glote fechada, o que não equalizaria as orelhas. Na verdade, a técnica, que no mergulho chamamos de Manobra de Valsalva, foi desenvolvida pelo médico inglês Joseph Toynbee (1815-1866), que também criou, além deste, um outro procedimento chamado de Manobra de Toynbee, que consiste em engolir com a boca e com o nariz fechados.

Uma outra manobra alternativa usada para a equalização das orelhas, é conhecida como Manobra de Frenzel, que foi desenvolvida em 1938 para os pilotos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. O mergulhador mantém o nariz e a boca fechados, contraindo os músculos da boca para abrir a tuba auditiva, e usando a língua como um pistão para empurrar ar nela. A Manobra de Frenzel, assim como a de Toynbee, são suaves, e deixam as mãos do mergulhador livres para outras tarefas.


Fisiologia do mergulho: o cuidado com a equalização das orelhas

Outras manobras muito úteis são o movimento da mandíbula, enquanto bocejar com a boca fechada, ou a combinação de várias manobras. Importante também, é descer sempre com os pés primeiros, facilitando assim uma pressão maior na parte superior dos espaços, onde fica a tuba auditiva e as orelhas. A respiração correta, lenta e profunda, também ajuda no relaxamento muscular facial, permitindo uma melhor circulação do ar pela tuba auditiva e consequente equalização. Se a dificuldade acontecer, é necessário diminuir um pouco a profundidade, e começar novamente os procedimentos de equalização.

Após um mergulho, durante o retorno para a superfície, o ar que está contido na orelha média, vai percorrer o caminho inverso, passando pela tuba auditiva e saindo pelas vias aéreas. Se algum problema acontecer neste processo, isso poderá causar um bloqueio reverso, e para evitá-lo é necessário retardar o retorno para a superfície, descendo novamente um pouco até parar a dor, e retomar a subida muito lentamente, movimentando bastante a mandíbula, na tentativa de liberar a tuba auditiva para a saída do ar. Importante neste situação, é jamais realizar uma Manobra de Valsalva durante a subida, o que provocaria o efeito inverso, aumentando ainda mais a pressão interna na orelha, com possibilidades, inclusive, de ruptura do tímpano ou até mesmo da janela redonda.

O rompimento do tímpano, pode provocar a entrada de água na orelha média, o que causaria um rápido resfriamento e uma vertigem imediata. A ruptura da janela redonda, pode causar a vertigem alternobárica, pelo aumento da pressão, o que implicará na perda do equilíbrio, não percebendo o mergulhador se está indo para o fundo ou para a superfície.

Outra regra básica é evitar mergulhar em caso de resfriado ou gripe, pois nestas situações, a mucosa que recobre a tuba auditiva, ficará inflamada, e ocorrerá também a produção de secreções pelo organismo, fatores estes que diminuirão a possibilidade da passagem do ar das via aéreas para a orelha média, impedindo assim a equalização.

O uso de descongestionantes também não é uma boa ideia, pois caso seu efeito passe durante o mergulho, poderá provocar uma situação de bloqueio reverso.


Fisiologia do mergulho: o cuidado com a equalização das orelhas

Alguns equipamentos, como por exemplo as máscaras do tipo “full face”, exigem técnicas diferenciadas para a equalização das orelhas e exigem um treinamento especializado, que podem ser aprendidas em um curso FULL FACE MASK da NAUI, como uma excelente opção.

É interessante abordar que muitos mergulhadores, com o tempo e a prática das atividades subaquáticas, acabam por conseguir equalizar as orelhas com um simples mexer das mandíbulas, sem necessariamente pinçar o nariz para isso.

O tema aqui descrito, é detalhadamente discutido no curso de mergulho básico SCUBA DIVER OPEN WATER NAUI, assim como outras matérias como física, fisiologia meio ambiente, teorias de descompressão e tabelas de mergulho, planejamento e equipamentos.

Referências: Manuais de Mergulho da National Association Of Underwaters Instructors

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Alvanir Jornada

Quem é o autor deste artigo?

Alvanir Jornada é representante internacional de Treinamento da National Association Of Underwater Instructors e diretor presidente do escritório da NAUI Mercosul. Também é proprietário da Jornada Sub, em Jundiaí. Instrutor de mergulho recreativo, técnico, científico e militar. Como course diretor NAUI, já conduziu mais de 40 Cursos de Formação de Instrutores desde 2002. Ministrou diversos treinamentos em grupos especiais do Exército, Marinha, Força Aérea e Polícia Federal. Também tem importantes participações na área do mergulho científico, atuando em projetos nas áreas de Arqueologia Subaquática e de Biologia Marinha, inclusive fora do Brasil. NAUI CDT#19845

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