Como está a sua navegação subaquática? - OceanHub
Como está a sua navegação subaquática?

Como está a sua navegação subaquática?

Vamos imaginar o seguinte cenário: você está mergulhando com o seu dupla em um recife de corais com boas condições de visibilidade, sem correntes, não muito profundo. O seu dupla está observando uma cardume de Xaréus e você preocupado com as configurações da câmera e as fotos que está capturando. Já se passou um bom tempo do início do mergulho e o ar restante já está abaixo de 120 bar. Um olha para o outro e trocam o sinal “onde está barco?”. Percebendo que nenhum dos dois sabe a resposta, várias outras perguntas nos vêem à mente: Será que estamos muito longe do barco? E se formos na direção errada, mais distante ainda? Se subirmos, vamos ter que nadar muito na superfície? O barco vai conseguir nos ver?

Essa situação nos mostra uma necessidade básica para sabermos navegar embaixo d’água – encontrar o caminho de volta. Mas vai além disso. Ao conquistarmos essa habilidade, adquirimos um novo sentimento de confiança e independência, alivia o estresse e traz maior segurança para os nossos mergulhos.

Como está a sua navegação subaquática?

Quando estamos em terra firme e queremos ir para determinado lugar e retornar, precisamos nos orientar e podemos fazer isso de diversas maneiras. A primeira, e mais simples, é olharmos o ambiente ao nosso redor e marcarmos algumas referências como construções, árvores, ruas, etc. Temos também os mapas e até mesmo equipamentos como o GPS que nos dão maior precisão neste trajeto.

Embaixo d’água não é muito diferente. Podemos observar as referências naturais do ambiente onde estamos mergulhando e também usar alguns equipamentos, como a bússola, que irão nos auxiliar na orientação. Desta forma podemos dividir a navegação em três modalidades: natural, por instrumentos e prática. A natural é a que a maioria dos mergulhadores utiliza no dia a dia, quando seguem algumas marcações, podendo ser geológicas, feitas pelo homem ou outras ocorrências naturais. Navegação por instrumentos seria aquela onde seguimos o percurso todo orientados pela bússola. Isso pode ser bastante entediante. Então temos um misto das duas formas anteriores de navegação subaquática, que é a prática.

Planejamento

Uma boa navegação começa bem antes de cairmos na água. Para podermos nos orientar com tranquilidade e segurança embaixo d’agua, devemos lembrar que o nosso mergulho exige um bom planejamento.

Se você e o seu dupla irão mergulhar por conta própria, precisam buscar informações sobre o local com um Dive Center ou com outros mergulhadores a fim de obterem uma descrição geral, se possível com um mapa. Se for com uma operadora contratada, prestem bastante atenção nas orientações (briefing) do divemaster. Ele deverá informar as particularidades do local, profundidade média e correntes, para você e o seu dupla se prepararem para o mergulho. Discutam, dentro dos seus perfis de mergulho, o tempo ou quantidade de ar no qual deverão retornar, para então escolherem a melhor rota a ser seguida. O mergulho fica mais produtivo se as tarefas forem divididas entre a dupla. Decidam qual dos dois irá liderar o mergulho, ficando então o líder responsável pela navegação (direção) dentro do planejamento estipulado, e o dupla ficará monitorando o tempo, profundidade e distância. E não se esqueçam de relembrar e combinar os sinais que deverão utilizar.

Navegação Natural

A maioria dos mergulhadores já pratica a orientação natural, uma vez que, conforme vamos nos familiarizando com um determinado ponto de mergulho, usamos algumas referências e detalhes subaquáticos para nos dar a orientação da direção que estamos seguindo.

Podemos utilizar diversas referências naturais para nos auxiliar na navegação. Se essas referências são facilmente visualizadas e reconhecidas e ainda temos uma boa visibilidade, a nossa orientação fica bastante facilitada.

Luz e Sombras

Em um mergulho não muito profundo e com boa visibilidade, a forma como os raios de luz incidem na água nos indica a posição do sol, o que pode nos ajudar a determinar a direção que estamos seguindo. Isso é mais evidente no início e no final do dia, quando existe um ângulo distinto e sombras.

Como está a sua navegação subaquática?

Formações Geográficas

Você pode realizar o mergulho seguindo a lateral de um paredão ou borda de um rochedo mantendo uma direção com o precipício ou declive à sua direita, por exemplo, e navegar durante um certo período de tempo, por exemplo 20 minutos. Para retornar ao ponto de início, você irá retornar e nadar pelos mesmos 20 minutos, agora mantendo o declive à sua esquerda.

Um coral cérebro que se destaca, uma esponja tubular, gorgônias, ou qualquer coral que consiga identificar facilmente podem ser usados como pontos de referência. Você deve memorizar a direção do seu ponto de início do mergulho até as referências e todas as que forem importantes durante as mudanças de direção no trajeto.

Composição do Fundo

Em vários locais de mergulho a composição do fundo vai mudando durante o trajeto, podendo variar de areia para rocha ou coral. Ao observar essas mudanças e o período de tempo no qual elas ocorreram, você pode utilizar esta informação no percurso de volta.

Se você estiver nadando em um fundo inclinado e está se dirigindo para o alto ou para água mais rasa, é provável que está na direção da praia. Um grande declive, um precipício ou parede indicam a direção para águas mais profundas, normalmente longe da praia.

Devido à ação das ondas, o fundo de areia geralmente apresenta ondulações bem marcadas paralelas à linha do contorno da costa.

Referências Artificiais

Os pontos de referência criados pelo homem também são uma excelente ferramenta para a orientação. Eles podem ser uma velha armadilha para apanhar lagostas abandonada ou uma âncora afundada. Estes pontos de referência podem fazer parte de um antigo naufrágio, ou de entulhos propositadamente afundados. Podemos usar essas referências artificiais em conjunto com as formações geográficas mencionadas anteriormente.

Quaisquer objetos que chamem a atenção devem ser atentamente observados e, se possível, anotados em um slate board para usá-los como referências.

Correntes e Marés

Os movimentos da água podem nos ajudar na identificação da direção da navegação. Os movimentos das ondulações são percebidos mais próximos à praia do no mar aberto e atuam perpendicularmente à costa, com o fluxo e refluxo da arrebentação.

O mergulhador pode também utilizar a direção das correntes como referência na navegação. A melhor maneira de lidar com elas é nadar no sentido contrário no início do mergulho e retornar à favor, facilitando a identificação da direção do ponto de saída.

No nosso planejamento do mergulho devemos nos informar sobre as particularidades do local de mergulho referentes as marés e a direção que podemos tomar de acordo com as correntes que temos no local. Por exemplo, vamos planejar um mergulho na entrada de uma baía e a informação é que este local possui uma maré vazante extremamente forte. Se optarmos pelo período de maré vazante, podemos nos desviar e sermos levados pela corrente para o mar aberto. Para evitarmos maiores surpresas, seria prudente planejarmos o mergulho para o período de estofo da maré vazante. Ao longo do mergulho a maré irá encher e tende a nos levar em direção ao continente, sendo muito mais fácil chegar em terra firme.

Este foi um apanhado geral sobre navegação, com o foco principal na navegação natural. Obviamente a intenção não é esgotar o assunto e sim despertar o interesse dos mergulhadores e mostrar a sua importância para fazermos um mergulho prazeroso e seguro. Na segunda parte iremos abordar a navegação com instrumentos e as técnicas de uso.

 

Alberto Maia

Quem é o autor deste artigo?

Ricardo Morandi é mergulhador avançado formado pela Casa do Mergulhador e possui as especialidades de EAN e PPB.

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